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Por Carlos Alberto Pinto de Carvalho da equipe de Litígos CTA_
Primeiro são os filmes, depois as recepções e salas suntuosas dos sócios dos grandes escritórios, assistentes, cafezinhos e um tratamento reverencial que beira a santidade.
Então vem aquele fatídico sonho do estagiário de direito em ter seu próprio escritório. Muito parecido com o sonho de ser seu próprio chefe, aprender a tocar um instrumento, escrever um livro, enfim, validar de alguma maneira uma ideia de sentido de vida que estaria à sua espera em um ponto distante e que se revelaria assim que fosse atingido.
Gosto muito do exemplo do instrumento musical porque, além de advogado, sou músico no meu tempo livre e não consigo contar quantas vezes já me pediram para ensinar a arte de tocar um bom violão.
Depois de um tempo, já escolado, eu dizia: “Claro que eu te ensino a tocar, mas eu tenho duas regras: 1) Eu não cobro nem um centavo; 2) Se eu chegar a qualquer aula e você me disser ou eu perceber que você não estudou o que ficou combinado na aula anterior eu paro de te ensinar na mesma hora, sem rancor, sem brigas, enfim, nada pessoal.“
Adivinhe quantas pessoas sobreviveram ao sistema, mesmo ele sendo gratuito? ZERO! A maioria sequer marcou a primeira aula.
Isso revela algo importante da natureza humana, que um saudoso tio meu traduziu na seguinte frase: “As pessoas destituídas de vontade, querem voar, e acabam rastejando”.
Não basta sonhar em ter seu próprio escritório. Tem que querer muito, mas querer mesmo, mais do que qualquer outra coisa, mais do que sexo, sono e comida. É isso ou dar sorte, que eu não acredito que realmente exista.
Por isso, todos nós deveríamos questionar se essa vontade é real ou se é algo romantizado em nossa cabeça, antes mesmo de imaginar abandonar uma proposta de efetivação, um emprego em um escritório ou em um departamento jurídico de empresa.
Se você refletiu e chegou à conclusão que não tem tanta vontade assim, esse texto já te fez um enorme favor e você pode parar por aqui. Se ainda sobrevive uma esperança nessa cabecinha revolucionária, vamos adiante.
Esqueça a ideia luxuosa, em cores amadeiradas e cheirando a mogno, que temos de um escritório de advocacia. Começar um escritório de advocacia é uma das coisas menos glamourosas que existem.
Isso porque, o custo fixo na prestação de serviços jurídicos é muito alto e a alavancagem operacional é muito baixa. Ou seja, cada advogado produz até um valor máximo por mês e, a partir disso, para cada real de receita a mais é necessário contratar mais uma pessoa, mesa, computador, licenças de software etc.
Toda essa estrutura adicional fica subutilizada no começo e não se paga até atingir um certo nível de faturamento, quando, talvez, seja o momento de recomeçar o ciclo. Por esse motivo, no início, o negócio é sobrecarregar a força de trabalho do sócio para não aumentar o custo operacional.
Isso significa, você, sócio-fundador do Xiririca e Serra Advogados fazendo cinco audiências em um dia, correndo atrás de certidões, pegando a fila da Junta Comercial, lidando com clientes de todo o tipo, pagando as contas e tudo isso, provavelmente, sem retirar um centavo no fim do mês. Ou mesmo, como aconteceu comigo no primeiro semestre do meu escritório, tendo a luz do escritório cortada por falta de pagamento e indo para a casa da sua mãe terminar aquele prazo.
Além disso, ninguém sabe muito se você é doutor, despachante ou picareta, afinal, depois de tudo isso, você não tem dinheiro, talvez tenha vendido seu carro (como eu fiz), não tem secretária, está com os sapatos gastos e os ternos cansados. Ao mesmo tempo fala de peito cheio que é “dono de um escritório de advocacia”. Essa contradição não pega bem, você percebe, mas a realidade é essa e por muito tempo pouca gente vai te levar a sério.
Agora, se mesmo depois de refletir sobre tudo isso, você ainda quer abrir seu próprio escritório de advocacia, te garanto que pode ser algo muito recompensador.
Pensar um modelo de negócio, empregar e gerir pessoas, moldando sonhos e realidade em torno de um objetivo que começa a ganhar vida e se desprender de você, como o início de uma instituição permanente que pode ultrapassar gerações, carregando a cultura que você ajudou a criar e mudando a vida de pessoas e empresas, é deixar sua marca no mundo de um jeito que as pessoas que desistiram no nono parágrafo jamais vão entender.
Para quem realmente quer quebrar essa barreira ou mesmo para quem quer empreender dentro do mesmo escritório em que trabalha, eu tenho uma boa notícia: advogados geralmente não estudam nada que não seja direito. Isso quer dizer que se você estiver disposto a estudar, a entender mais sobre administração, gestão de pessoas, marketing e estratégia existe um potencial enorme de crescimento dentro desse mercado.
Basta querer de verdade, voar e não rastejar.
(Fonte: http://goo.gl/6LwJnr)